Ednária Holanda Ferreira aguarda liberação das fronteiras para deixar o país em meio à transição política
A missionária mossoroense Ednária Holanda Ferreira, 52 anos, falou com exclusividade ao Blog do Ismael Sousa sobre a situação na Síria após a queda do regime de Bashar al-Assad. Líder do país por mais de duas décadas e herdeiro de uma dinastia que durou 50 anos, Assad fugiu para a Rússia no último sábado (7), encerrando um capítulo marcado por conflitos e crises humanitárias.
Ednária, consagrada do Movimento dos Focolares, vive no Oriente Médio há 18 anos, tendo passado por Egito, Iraque e, mais recentemente, pela cidade síria de Alepo, onde reside há quase dois anos. "No momento, nossa situação é semelhante à de todos os sírios: vivemos entre a suspensão e a alegria por mudanças, pela renovação do sistema de governo e pela esperança de dias melhores", disse.
A brasileira explicou que, apesar da queda do regime, as fronteiras da Síria permanecem fechadas, dependendo de acordos com países vizinhos como Turquia, Jordânia e Líbano. "Estamos em contato com a Embaixada do Brasil em Damasco, que encontrou um lugar para mim e outra brasileira no comboio da ONU. Há suporte por telefone e e-mail, e o Ministério das Relações Exteriores está em constante comunicação conosco", relatou.
Ednária também destacou o papel da ONU na proteção de estrangeiros durante o período de transição: "Logo no início, colocaram dois grandes hotéis de cinco estrelas à disposição de estrangeiros e funcionários, cobrindo todos os custos. Além disso, organizaram um super comboio com vários carros e ônibus para evacuação, mas a saída do país tem sido difícil devido à interdição das rodovias por questões de segurança."
Sobre a chegada dos rebeldes ao poder, ela afirma que não há sinais de hostilidade direta contra comunidades cristãs na região. "Aqui temos uma grande comunidade cristã das igrejas orientais e ocidentais, com salesianos, jesuítas e franciscanos. Segundo os rebeldes, nossa missão continuará como antes, sem mudanças."
Ednária destacou que sua saída do país não é definitiva. "Não estou retornando ao Brasil, apenas deixando a Síria neste momento delicado de transição. Já planejava visitar minha família em dezembro", explicou. Ela segue mantendo contato com a família diáriamente.
Focolarinas
As focolarinas são mulheres consagradas do Movimento dos Focolares, fundado por Chiara Lubich em 1943, com o objetivo de promover a unidade e a fraternidade universal. Vivendo em pequenas comunidades chamadas “focolares,” dedicam suas vidas à espiritualidade, ao diálogo inter-religioso, e à construção da paz, enquanto mantêm vínculos ativos com o mundo secular por meio de suas profissões e serviços sociais.
Queda do regime
O regime de Bashar al-Assad chegou ao fim após mais de cinco décadas de domínio da família Assad na Síria. O ex-presidente deixou o país no último sábado, buscando refúgio na Rússia juntamente com sua família, em meio à pressão crescente de grupos rebeldes e da comunidade internacional.
A queda de Assad marca o encerramento de uma era iniciada por seu pai, Hafez al-Assad, que assumiu o poder em 1970. Durante sua gestão, Bashar enfrentou uma guerra civil devastadora, com milhões de mortos, deslocados e refugiados.
A saída de Assad abre um novo capítulo na história da Síria, que agora encara uma transição política incerta. Grupos rebeldes assumiram o controle de diversas regiões estratégicas, enquanto a população, exausta por anos de conflitos, espera por estabilidade e reconstrução.